O Ministério das Mulheres lançou o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher – Raseam 2025 nesta terça-feira, 25 de março. O documento reúne uma análise detalhada de dados sobre o perfil demográfico e socioeconômico das brasileiras, tornando-se uma referência para embasar políticas públicas, pesquisas e estudos.
Produzido pelo Observatório Brasil da Igualdade de Gênero (OBIG), a publicação retrata a situação das brasileiras a partir de 328 indicadores extraídos de diferentes bases de dados e destaca as desigualdades que exigem ações do poder público. Os dados são analisados sob diversas perspectivas, como região, cor ou raça, faixa etária, local de residência (urbano ou rural), renda e presença de deficiência, entre outros.
Durante a cerimônia de lançamento, a ministra Cida Gonçalves (Mulheres) ressaltou que o relatório torna todas as informações mais acessíveis para a população. “Com indicadores que descrevem a realidade das mulheres brasileiras a partir de aspectos demográficos, do mundo do trabalho, de educação, de saúde, do enfrentamento à violência, de espaços de poder e decisão e dos esportes, o Relatório torna as informações que estão nas bases de dados do governo mais acessíveis para a população, ao reuni-las em uma só publicação”, apontou.
Francisco Macena, ministro em exercício do Trabalho e Emprego, ressaltou a importância de ampliar as políticas públicas de igualdade de gênero no mercado de trabalho. “A maioria das políticas de gênero do governo Lula é liderada pelo Ministério das Mulheres, e investiremos todos os esforços para que essas políticas sejam implementadas. O Ministério do Trabalho e Emprego tem total compromisso com a inclusão das mulheres no mercado de trabalho”, assegurou.
A coordenadora-geral do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, Camila Rocha Firmino, acrescentou que o documento contém novos indicadores: “em relação à edição de 2024, o Raseam 2025 apresenta novos indicadores, e um aumento significativo referente aos indicadores do ano passado ampliando de 270 para 328, conforme discussões propostas pelo Grupo de Trabalho de Monitoramento de Indicadores do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero”, disse.
O Raseam 2025 está estruturado em sete eixos temáticos:
– Estrutura Demográfica, que aborda a composição demográfica com ênfase na população feminina;
– Autonomia Econômica e Igualdade no Mundo do Trabalho, que analisa a participação das mulheres no mercado de trabalho e as disparidades de gênero;
– Educação para Igualdade de Cidadania, que examina indicadores como taxas de alfabetização, frequência, evasão escolar, entre outros.
– Saúde Integral, Direitos Sexuais e Reprodutivos, com indicadores relacionados à razão de mortalidade materna, taxas de mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, partos na infância e adolescência
– Enfrentamento de todas as formas de Violência Contra as Mulheres, que traz estatísticas sobre atendimento às mulheres em situação de violência, ocorrências policiais de homicídios, feminicídios e estupros, além de dados do Ligue 180;
– Mulheres em Espaços de Poder e Decisão, sobre a representatividade feminina em cargos políticos, como nas eleições de 2024;
– Mulheres no Esporte, que aborda a participação feminina nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, além de desigualdades no financiamento e reconhecimento de atletas mulheres.
MULHERES INDÍGENAS — O relatório mostra que o perfil etário das mulheres indígenas é mais rejuvenescido que o da população feminina total. No geral, a maioria da população feminina é composta por mulheres adultas, de 25 a 59 anos de idade (50,0%), seguida por crianças e adolescentes até 14 anos (18,8%). Entre as mulheres indígenas, porém, a proporção de crianças e adolescentes até 14 anos é maior (28,9%), enquanto a presença de adultas com 40 anos ou mais é menor: 31,6% entre as indígenas e 44,0% da população feminina em geral.
DOMICÍLIOS — As mulheres são a maioria entre as pessoas responsáveis pelos domicílios no Brasil, com 40,2 milhões de lares sob sua responsabilidade, superando os 37,5 milhões liderados por homens. No Norte e Nordeste, há maior proporção de domicílios estendidos — 19,8% e 25,8%, respectivamente —, indicando a presença de mais de uma família no mesmo domicílio.
Já no Sudeste e Sul, prevalecem as unidades unipessoais, com 17,4% e 17,3%, respectivamente, o que pode ter relação com o perfil mais envelhecido da população e o fato de as mulheres viverem mais.
TRABALHO — Jovens mulheres de 14 a 17 anos são as que mais buscam emprego, apesar de, nesta idade, o trabalho ser permitido apenas na condição de aprendiz. No segundo trimestre de 2024, 34,0% das adolescentes dessa faixa etária procuravam trabalho, contra 24,1% dos jovens do sexo masculino.
ESTUDO — As mulheres também são maioria entre os jovens que não estudam. Em 2023, dos 7,3 milhões de jovens de 15 a 29 anos que não estudavam, não estavam empregados e não buscavam trabalho, 69,5% eram mulheres e 48,5% eram mulheres pretas ou pardas.
Entre esses jovens, 31,9% manifestaram desejo de trabalhar, mas enfrentavam barreiras como a falta de oportunidades na localidade ou a dificuldade de conciliar um emprego adequado com as responsabilidades domésticas e os cuidados com filhos e parentes — um fator apontado quase exclusivamente por mulheres.
EXPLORAÇÃO — Apesar dos avanços legislativos, a exploração no trabalho doméstico ainda persiste. Em 2023, 17 mulheres e meninas foram resgatadas de condições análogas à escravidão no trabalho doméstico no Brasil. Dessas, 12 eram pretas ou pardas, quatro eram brancas e uma era indígena. A maioria tinha entre 40 e 59 anos (8 mulheres), enquanto 5 tinham mais de 60 anos, duas estavam na faixa de 20 a 39 anos e duas eram menores de idade.
DESIGUALDADE SALARIAL — Mesmo com a nova Lei de Igualdade Salarial, as mulheres ainda recebem, em média, 79,3% do salário dos homens em estabelecimentos formais com cem ou mais empregados. De acordo com o Relatório de Transparência Salarial do primeiro semestre de 2024, a remuneração média feminina foi de R$3.565, enquanto a masculina chegou a R$4.495.
Entre as 31,6 mil empresas que participaram do relatório, 35,3% adotavam políticas para incentivar a contratação de mulheres, 27,9% possuíam ações voltadas à contratação de mulheres negras e 24,3% promoviam a inclusão de mulheres com deficiência.
INSEGURANÇA ALIMENTAR — As mulheres são maioria entre as responsáveis por domicílios em situação de insegurança alimentar. No quarto trimestre de 2023, 21,6 milhões de domicílios enfrentavam esse problema no Brasil, sendo que, em 59,4% deles, a pessoa responsável era uma mulher.
No entanto, entre os domicílios chefiados por mulheres, 68,3% estavam em situação de segurança alimentar — um percentual inferior ao observado nos lares chefiados por homens (76,8%), evidenciando a maior vulnerabilidade dos lares sob responsabilidade feminina.
ALFABETIZAÇÃO — A taxa de alfabetização entre mulheres é menor entre idosas e na zona rural. Em 2023, a taxa geral de alfabetização feminina era de 94,6%. No entanto, o índice diminui conforme a idade avança, especialmente em áreas rurais. Entre as mulheres de 70 anos ou mais que vivem no campo, a taxa de alfabetização era de apenas 55,4%.
Mulheres indígenas e quilombolas também apresentam taxas de alfabetização mais baixas. De acordo com o Censo 2022, a taxa de alfabetização entre mulheres indígenas era de 84,3%, enquanto entre mulheres quilombolas, o índice era ainda menor: 82,9%.
VIOLÊNCIA – Segundo os registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/MS), nos casos de violência contra mulheres adultas (20 a 59 anos), 60,4% foram contra mulheres pretas e pardas, enquanto 37,5% contra mulheres brancas. Esses dados evidenciam a sobreposição de vulnerabilidades para mulheres negras, resultado de desigualdades raciais e socioeconômicas. Os principais agressores das mulheres são os homens. Em 76,6% dos registros de violências domésticas, sexual e/ou outras violências contra mulheres, o agressor é do sexo masculino.
ESPORTE — Pela primeira vez mulheres são maioria entre os atletas convocados para os Jogos Olímpicos. Nas edições anteriores, o Brasil foi representado por mais homens que mulheres. No entanto, nos Jogos de Paris 2024, a participação feminina superou a masculina, devido ao aumento do número de atletas mulheres entre 2020 e 2024 e pela redução contínua do número de atletas homens desde 2016.
RASEAM — Instituído pela Lei nº 12.227/2010, o relatório foi lançado pela primeira vez em 2013 e se consolidou como uma ferramenta essencial para a elaboração de políticas públicas voltadas à promoção da igualdade de gênero. Os dados desta edição foram compilados pelo OBIG e obtidos de órgãos oficiais como IBGE, Inep, TSE e diversos ministérios, incluindo Saúde, Educação, Justiça e Segurança Pública, Esporte, Defesa, Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Direitos Humanos e da Cidadania, Relações Exteriores, Previdência Social e Trabalho e Emprego.
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